
Tentei dizer quanto te amava, aquela vez, baixinho ...mas havia um grande berreiro,
um enorme burburinho e, pensando bem, o berçário não era o melhor lugar.
Você de fraldas, uma graça, e eu pelado, lado a lado, cada um recém-chegado
Você de fraldas, uma graça, e eu pelado, lado a lado, cada um recém-chegado
...você sem saber ouvir, eu sem saber falar.
Tentei de novo, lembro bem, na escola.
Um PS no bilhete pedindo cola interceptado pela professora como um gavião.
Fui parar na sala da diretora e depois na rua, enquanto você, compreensivelmente,
Tentei de novo, lembro bem, na escola.
Um PS no bilhete pedindo cola interceptado pela professora como um gavião.
Fui parar na sala da diretora e depois na rua, enquanto você, compreensivelmente,
ficou na sua.
A vida é curta, longa é a paixão...
Numa festinha ( ah, nossas festinhas! ), eu disse tudo:
A vida é curta, longa é a paixão...
Numa festinha ( ah, nossas festinhas! ), eu disse tudo:
"Eu te adoro, te venero, na tua frente fico mudo".
E você não disse nada.
E você não disse nada.
Só mais tarde, de ressaca, atinei... cheio de amor e de Cuba Libre, me enganei
e disse tudo para uma almofada.
Gravei, em vinte árvores, quarenta corações.
Gravei, em vinte árvores, quarenta corações.
O teu nome, o meu, flechas e palpitações:
No mal-me-quer, bem-me-quer, dizimei jardins.
Resultado: sou persona pouco grata corrido aos gritos de "Mata! Mata!"
por conservacionistas, ecólogos e afins.
Recorri, em desespero, ao gesto obsoleto:
Recorri, em desespero, ao gesto obsoleto:
"Se não me segurarem faço um soneto
"E não é que fiz, e até com boas rimas?
Você não leu, e nem sequer ficou sabendo.
Continuo inédito e por teu amor sofrendo.
Mas fui premiado num concurso em Minas.
Mas fui premiado num concurso em Minas.
Comecei a escrever com pincel e piche num muro branco
( o asseio que se lixe) todo o meu amor para a tua ciência.
Fui preso, aos socos, e fichado.
Dias e mais dias interrogado
Te escrevi com lágrimas, sangue, suor e mel
Te escrevi com lágrimas, sangue, suor e mel
(você devia ver o estado do papel) uma carta longa, linda e passional.
De resposta nem uma cartinha nem um cartão, nem uma linha!
De resposta nem uma cartinha nem um cartão, nem uma linha!
Vá se confiar no Correio Nacional...
Com uma serenata sim, uma serenata como nos tempos
Com uma serenata sim, uma serenata como nos tempos
da Cabocla Ingrata me declararia, respeitando a métrica.
Ardor, tenor, a calçada enluarada... havia tudo sob a tua sacada
menos tomada pra guitarra elétrica.
Decidi, então, botá a maior banca no céu e escrever com fumaça branca:
Decidi, então, botá a maior banca no céu e escrever com fumaça branca:
"Te amo, assinado..." e meu nome bem legível.
Já tinha avião, coragem, brevê tudo para impressionar você ,
mas veio a crise, faltou o combustível.
Ontem você me emprestou o seu ouvido e na discoteca,
Ontem você me emprestou o seu ouvido e na discoteca,
em meio do alarido, despejei meu coração.
Falei da devoção há anos entalada e você disse:
Falei da devoção há anos entalada e você disse:
"Não escuto banda". Disse "eu não escuto nada".
Curta é a vida, longa é a paixão.
Na velhice, num asilo, lado a lado em meio a um silêncio abençoado
Curta é a vida, longa é a paixão.
Na velhice, num asilo, lado a lado em meio a um silêncio abençoado
direi o que sinto, meu bem.
O meu único medo é que então, empinando a orelha com a mão,
O meu único medo é que então, empinando a orelha com a mão,
você me responda só:
"Hein????"
Luiz Fernando Veríssimo
Um comentário:
Passei pra ler seus textos escolhidos muito bem... e pra deixar um beijinho e desejar Bom final de semana!!!!
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